quinta-feira, 26 de junho de 2014

"Criador De Belas Coisas"

"Janela da alma" 25/30 mista/tela- Deni Vilela



Um artista é um criador de belas coisas.
O objetivo d arte é se revelar enquanto esconde o artista.
Crítico é aquele que pode traduzir de outro modo ou em novo material sua impressão de coisas belas.
As mais elevadas e as mais baixas formas de críticas são uma expressão autobiográfica.
Aqueles que encontram significados feios em coisas belas são corruptos e não possuem nenhum encanto. Isso é um defeito.  
Aqueles que encontram significados belos em coisas belas são os cultos. Para esses há esperança.
os eleitos são aqueles para quem as coisas belas significam apenas Beleza.
Um livro não é moral ou imoral. É bem ou mal escrito. Isso é tudo.
A aversão do século xix  ao  realismo é  a raiva de Calibã por se ver num espelho.
A aversão do século xix ao romantismo é a  raiva de Calibã por  não  se ver num espelho.
A vida moral de um homem é tema do Artista, mas a moralidade da Arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito.
Nenhum Artista deseja provar nada. Até as coisas verdadeiras podem ser provadas.   
Nenhum artista  tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um imperdoável maneirismo de estilo.
Nenhum artista é jamais mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista  instrumentos de uma arte.
O vício e a virtude são para o artista  matéria- prima para uma arte.
Do ponto de vista da forma, o modelo de todas as artes é a arte do músico.
 No ponto de vista da emoção, o modelo é o ofício dos atores.
Toda Arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo.
Os que mergulham abaixo da superfície o fazem , fazem a seu próprio  risco.
Os que leem os símbolos o fazem a seu próprio risco.
É o espectador e não a vida que a Arte de fato espelha..
A diversidade de opiniões a respeito de uma obra de arte mostra que essa obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos não se põem de acordo, o artista está de acordo consigo próprio.
Podemos perdoar um homem por fazer alguma coisa útil desde que ele não a admira. A única desculpa para se fazer algo inútil é admirá-la intensamente.
Toda  arte é bem inútil.
Oscar Wilde (O Retrato De Dorian Gray)

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Gravuras




Uma menina com uma flor II - 52/38
Uma Menina com uma flor -60/50
AMARO MAR - 32/26cm



                                                               As Três Marias - 34/39cm





sábado, 22 de março de 2014

A Sensibilidade Retratando Liberdade



Simbologia da Borboleta em Deni Vilela




 






                                                                                          

                                       Deni Vilela tematiza a borboleta desde o início de sua carreira na arte plástica. Observando os títulos de suas telas, mesmo as mais singelas, não há como descartar uma intenção “por trás”, na linha do simbólico. Segundo Cirlot, a borboleta, para os antigos, era emblema da alma e da atração inconsciente para o luminoso. Dos vários sentidos que ela pode assumir, aquele estudioso dos símbolos aponta ainda o de vida, para os gnósticos; de renascimento, para os psicanalistas; e o sentido secundário de alegria e felicidade conjugal, para os chineses. O que ele não disse é que ela se pode converter em um belo símbolo do feminino. 

"VIDA III" 50X60
      
"VIDA II"50X60
"VIDA" 70X70
"FAMÍLIA"
 
                                 "ALMA" 100X120

                   Podemos surpreender, sem esforço, alguns desses sentidos na arte de Deni vilela. “Coincidência ou não, ela possui telas denominadas “Vida”, “Alma”, Ternura”, que traz o subtítulo ”Família”. Mas, o primeiro daqueles sentidos (emblema da alma e da atração inconsciente para o luminoso), salta aos  olhos de quem conhece de perto esta artista plástica, toda alma e sensibilidade, e o seu ético modelo de conviver, seu empenho de crescimento espiritual. Não será por acaso que a sua obra, batizada com o sugestivo nome de “Fuga para o Azul”, insinua este vôo ascensional rumo ao luminoso, seja ele um ser superior, ou apenas o conhecimento, ou ainda o autoconhecimento. Nesta, a borboleta aparece mais transfigurada, fugindo ao estilo mimético, às vezes presente. A artista capta não a forma, mas quase tão somente a dinâmica do vôo: as asas desfazendo-se em puro movimento, descolando num vôo ascendente, quase de raspão sobre um muro, possível figuração dos obstáculos da vida, esta do cotidiano e mesmo, quem sabe, a de artista. O notável é que esta convulsão de amarelo dinâmico, com alguma esgarçadura que deixa entrever o azul distante, irrompe-se em cabeça e antena de borboleta, de fato numa desesperada fuga para o azul, que se abre à frente do ser simbólico, direcionando o olho estético do apreciador de arte para este ponto.

“Processo”
                       
"BORBOLETA SANGRANDO"70X90

"ASCENSÃO"120X80
                      Outro sentido que me parece sugerido na arte de Deni Vilela é aquele psicanalítico de “renascimento”, através da individuação. A sua tela denominada “Processo” e não “metamorfose” ( não nos esqueçamos do quanto nos sugere aquele título), onde se encontram os três estágios da vida de uma borboleta ( larva, crisálida e imago), poderia ser um mero exercício mimético, se a artista não tivesse concebido a outra denominada “ Borboleta Sangrando”. Nesta, a leveza de uma borboleta, plasmada num azul quase diáfano em aquarela, decola, num vôo também ascendente, de um campo visual minado de sangue. Este poderia sugerir apenas a violência doméstica, idéia que nos parece aí subjacente, mas, associada à tela anterior, tudo nos lembra o processo psicanalítico de crescimento ou de individuação do ser, de acordo com a teoria psicanalítica de Jung. Do lado direito uma janela fechada, mesmo de vidro, sugere a antiga prisão da crisálida. Mas, do lado de fora, no seu esplendor e dor, a imago. O renascimento é talvez um processo muito mais doloroso do que o do nascimento, porque temos de realizar o parto de nós mesmos. E muita dor, simbolicamente muito sangue, deverá rolar durante o processo, até a sua última fase: a partir de então, não mais será possível o consolo do auto-engano. A fase da imago ainda aparece sugerida em outros quadros, como é o caso daquele denominado “ascensão”.                            

"FETO" 90X130
                                                                
         
                         Lembrando talvez que o “renascimento” é um processo solitário e individual, e que está a cargo de cada indivíduo ( mas não necessariamente de todos) promover e completar esse processo, que resulta no autoconhecimento, há uma tela denominada “Feto”, bastante simbólica . Com o corpo e a cabeça sem antenas, ambos visíveis, apesar da ausência do órgão sensorial uma borboleta está ali pousada, sugerindo a fase da imago. A artista nega a fase adulta, imobilizando as asas dentro de um casulo transparente ou de um bloco de gelo. A borboleta assim figurada lembra a mulher ou, se quiser, o ser humano em sua idade adulta, sem o necessário crescimento psicológico: tem apenas a idade cronológica de um adulto; na realidade continua um “feto” ou uma crisálida, de onde não saiu ainda, ou talvez de onde nunca sairá.

"RENASCIMENTO" 100X100

                    A borboleta como símbolo do renascer, aparece mais vezes na obra de Deni Vilela. Ela reitera, em outros quadros, a imagem da crisálida e da imago, ambas a curta distância, eliminando a fase larval que,  parece sugerir, já foi ultrapassada. Um deles é o intitulado exatamente “ Renascimento”, que apresenta uma falsa simplicidade, mas é um quadro muito bem concebido. Recém-saída do pesado casulo, que aparece em primeiro plano pousado numa janela, uma borboleta_leve balão_ flutua  logo acima. Mas se observarmos com mais atenção, o que é uma leve borboleta converte-se numa nesga do azul, possível de ser vista da janela de um apartamento de um prédio, que deixa entrever paredões amarelos. E, coincidentemente, a janela foi o primeiro e talvez único espaço aberto delegado à mulher no curso de sua dura história, até as primeiras décadas do século XX, espaço por meio do qual ela pôde ver o horizonte e decolar em seus devaneios e sonhos de mais espaço. 


“Visionários”90X120

“Visionários XIII” 70X120
“Visionários XVI"90X130

“Visionários XIV" 70X120
"VISIONÁRIO XVIII" 90X140

"VISIONÁRIO XVII"90X110

























         "VISIONÁRIO XVIII" 90X140                               
                    Chamou-nos atenção, na arte de Deni, a sua série de detalhes denominados “Visionários”. Neles, sempre comparecem um ou dois círculos, possíveis pintas de asas das borboletas, que sugerem olhos que espreitam. Podem ser os do espectador, os da artista ou figurar ainda os olhos da mulher com sua capacidade visionária, premonitória, reconhecida sobretudo pelos povos pré- cristãos. Neste sentido, há um quadro independente, batizado com o título de “Premonição”, de fortíssimo apelo visual. Ele é uma espécie de close de um de seus detalhes. O que se vê é um misto de coruja (ave que enxerga no escuro), ou animal alienígena, ou ainda uma possível máscara humana, de onde saltam dois devassadores olhos que magnetizam e causam impacto ao espectador.



"NAMORO" 50X80

"AMOR" 100X140



                                
                
"EROS" 100X140
                                            

                  É curioso que a oposição, o conflito, quase sempre inevitável no relacionamento amoroso, aparece sugerida na tela chamada “Namoro”, com o subtítulo de “Relacionamento”.Duas borboletas comunicam-se por meio de suas antenas. Todavia encontram-se confinadas, cada uma no seu universo particular, separadas  por uma barra, que fica exatamente  no ponto ao mesmo tempo de união e separação das duas telas, que se encaixam, conotando, quem sabe, a dificuldade ou a impossibilidade de uma relação perfeita. As telas denominadas “Amor” e “Eros”, fragrantes de acasalamentos, reforçam essa idéia acima, pelo modo como as borboletas realizam a cópula: dando-se de costas uma para outra. Um fato natural pode, às vezes, assumir conotação simbólica, quando inserido num determinado contexto.


"ASA" 90X120
"DETALHE"
"CERRADO"

"PÉTALAS QUE VOAM"              
   
                "ESPLENDOR ALADO"
"LUPA" 70X90
"BARÔMETRO ECOLÓGICO"
             

                Numa técnica mista, que incorpora a colagem, massa acrílica, serragem, pó de granito e também a tinta acrílica, tudo entremeado à leveza da aquarela, que realiza o melhor das borboletas, Deni esculpe, enquanto pinta. As texturas e o simbolismo que emergem das telas revelam, mais do que o evidente fascínio pelas borboletas, as suas vivências e a captação sensível do mundo que a cerca. Suas borboletas não estão de modo ostensivo a serviço de uma causa ecológica (embora registre um caso nesta linha), mas estão, isto sim, de modo sub-reptício impregnadas de uma simbologia que torna as suas telas inteligíveis e inteligentes. Partindo de representações pesadas, Deni alcança a leveza ideal das borboletas e da arte em “Esplendor Alado”,“ Pétalas que voam” e “Borboleta Sangrando”, para citar alguns casos. Cremos que, no presente estágio, atingiu o máximo de sua independência artística, ou deliberada fuga à mimese, ao conceber sua “Borboleta Surreal”.  Esta só existe mesmo no universo alado da artista.


"BORBOLETA SURREAL" 100X130
"BORBOLETA SURREAL II" 120X120
                            
                     
                           Deni vilela é mais uma mulher que se encontra por meio da arte. É mais uma mulher que sai do anonimato e assume (ou assina) o seu próprio nome, abrindo as comportas deste supremo poder que o ser humano pode mobilizar: o da criação artística.


"CARAVELAS DO BRASIL" -100x120 -


                                                                  

Darcy França Denófrio
Mestre em Teoria da Literatura. Professora (aposentada)da UFG. Poetisa, ensaísta e critica literária .